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Foto: Arnoldo Santos/ Lago do Curuçá/ Rio Solimões/ Município do Careiro

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ESTUDO DA UFAM MOSTRA QUE COMPENSAÇÃO SOCIAL À POPULAÇÃO DE BALBINA É INÓCUA

Ela foi chamada por um estudo da USP de "a hidrelétrica que não deu certo". De sorte que, 22 anos depois de entrar em funcionamento parcial, a definição cabe muito bem. Um estudo de doutorado da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), assinado pelo professor-pesquisador Renam Albuquerque, lotado no campus de Parintins, mostra que a contrapartida social da empresa fornecedora, a Amazonas Energia, não tem sido suficiente para compensar o impacto causado pela construção da Usina Hidrelétrica de Balbina, nas margens do rio Uatumã, a cerca de 180 quilômetros de Manaus por estrada. O resultado negativo na economia com a inundação de milhares de hectares de floresta nativa pode ser mensurado pela condição atual da população local. O complexo elétrico, pensado ainda nos idos de 1973, para suprir Manaus de energia, não deu funciona até hoje. Tanto que a capital amazonense, para cobrir toda a demanda, vale-se de três usinas termelétricas que gastam milhões de óleo diesel por dia a custos exorbitantes. Segundo o levantamento prévio do professor Renam, "A luta pela vida nos últimos 20 anos, então dificultada pela falta de recursos naturais em abundância desde o enchimento do reservatório em 1989, ainda hoje gera conflitos interpessoais e afeta da mesma maneira o valor imaterial da floresta. Esse custo não é quantificável pela vias monetárias, de tal maneira que a constatação de quem visita o rio Uatumã a jusante, hoje, é de que a assistência social fornecida pela Amazonas Energia às populações afetadas é absolutamente insuficiente perante a magnitude da tragédia que se estabeleceu na área nos últimos dois anos, sobretudo, quando o deslocamento compulsório foi observado novamente em decorrência da cheia imprevista do rio". 
O estudo se baseia na constatação de que foi só o clima começar a dar sinais de ruptura com o regime natural e histórico das águas que a resposta das "autoridades competentes" não respondeu a contento. Com a cheia de 2009, e do anterior, várias famílias da parte debaixo do rio Uatumã, onde fica a usina, ficaram isoladas. O ramal que segue a margem do rio, onde centenas de famílias residem, ficou isolado porque vários trechos foram inundados. A empresa anunciou algumas medidas, como por exemplo a instalação de transporte gratuito ao longo do trecho inundado. As lanchas passaram a subir de descer o rio, pegando desde alunos até donas-de-casa em busca de mantimentos na cidade mais próxima, Presidente Figueiredo (104 Km de Manaus). O ramal fica inteiramente na área da usina, inclusive o porto de chegada e partida das lanchas. Mas essas medidas, segundo o estudo, não são suficientes.
"A estatal, de forma ainda surpreendente, parece não reconhecer sua responsabilidade na profunda ruptura social imposta aos povos desterritorializados -- o que gerou recrudescimento na auto-estima coletiva por causa do forçado processo de desfiliação com o território -- e tem cobrado altas taxas de consumo de luz elétrica dos ribeirinhos", diz o estudo prévio que será apresentado em forma de trabalho científico na Ufam.
Os números, já reconhecidos, corroboram para a fama nefasta da usina. Balbina inundou uma área de 2,4 mil Km quadrados para produzir 250 megawatts de energia. Tucuruír (Pará), por exemplo, produz 4,2 mil megawatts com uma área inundada de 2,8 mil Km quadrados. Se a lógica da relação custo-benefício ainda vale em termos ambientais e sociais, a provocação lúdico-científica do professor Renan vai ser mais uma ajuda pra nossa consciência.

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