As mudanças
estruturais no bumbódromo de Parintins não são visíveis apenas para o
público leigo. Técnicos responsáveis pelas apresentações de Caprichoso e
Garantido tiveram de replanejar seus desenhos, o que está gerando
expectativa e preocupação.
Tanto na montagem das alegorias
quanto na geração e captação de som, o ânimo nas duas agremiações
oscila entre a empolgação pela suntuosidade da estrutura nova e a
incerteza de que tudo vai sair tecnicamente perfeito.
“Esse ano
vamos ter que nos adaptar. Eu acho que é uma coisa natural”, avalia
Juarez Lima, um dos principais artistas do boi Caprichoso, que estava na
arena verificando detalhes da sua apresentação. Ele se referia à
mudança de limites das medidas das alegorias que cada boi terá de montar
da arena. Ainda no mês de março, as duas agremiações acordaram em
diminuir as dimensões das alegorias por conta da superestrutura metálica
que foi montada. Cada alegoria diminuiu em dez metros o tamanho de sua
frente. O limite caiu de 40 metros para 30 metros. Altura e dimensão de
fundo das alegorias também diminuíram.
O coordenador da comissão
de artes do Garantido, Fred Góes, também demonstrou sua preocupação.
“Nós só vamos poder falar quando a gente ouvir o som com a banda aqui
(no bumbódromo). Pelo menos, pelo investimento, a pretensão é que saia o
melhor som possível”, declarou, lembrando que a avaliação final será
dada somente depois dos ensaios técnicos e a passagem de som, dentro da
arena.
A preocupação dos artistas dos bumbás não é para menos. A
estrutura metálica montada se resume em 450 toneladas de ferro e aço,
num arco de 130 metros de envergadura e um formato de chifre – olhando
de cima, claro. O homem que projetou o colosso metálico é considerado o
“maior iluminador do Brasil”, apesar de ter nascido na Alemanha.
Fugido
dos horrores da segunda guerra, Peter Gasper, 73, chegou ao Brasil
ainda menino, com onze anos de idade. A família Gasper foi morar no Rio
Grande do Sul, mas Peter foi para o Rio de Janeiro estudar arquitetura
onde se especializou em cenografia. Voltou à Alemanha para estudar
iluminação cênica e, no decorrer da carreira, ganhou fama ao realizar os
projetos de iluminação de eventos como o show de Frank Sinatra no
Maracanã, a missa do papa João Paulo II no Aterro do Flamengo, o
Rock’n’Rio I e de locais conhecidos como o sambódromo do Rio de Janeiro e
as estruturas de Oscar Niemeyer em Brasília.
No meio da arena do
bumbódromo de Parintins, com simpatia admirável, Peter Gasper declara:
“já sou freguês daqui do Amazonas e de Parintins”. Sobre a estrutura
metálica, Gasper diz que os bois vão ter de aprender a usar cada vez
mais. “É um upgrade que os bois ganharam. Os bois sempre tiveram o
talento de fazer um bom espetáculo de luz, mas não tinham a estrutura
certa”, avalia o cenógrafo.
Em termos de quantidade, Peter diz
que os números podem ser irrelevantes. “Nós podemos usar mil lâmpadas,
ou cinco mil refletores, mas isso seria apenas para encher texto. O que
importa aqui é a qualidade”, completa. No meio da equipe, falando em
inglês com vários técnicos da sua equipe, Gasper diz que a estrutura
montada no bumbódromo não tem igual no Mundo. O acesso dos técnicos e
equipamentos, o espaço disponível e a facilidade de passagem do pessoal
são características que fariam os maiores especialistas de iluminação do
Mundo ficar admirado, garante Gasper.