A nossa Amazônia!

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Foto: Arnoldo Santos/ Lago do Curuçá/ Rio Solimões/ Município do Careiro

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ser pai não é pra qualquer um...



Júlia Santos, motivo de tudo

Restaurante do Amazonas Shopping. Eu tinha pedido apenas um suco, esperando Jack para almoçar nesta segunda com cara de sexta. E eis que um casal senta à mesa próxima. Os dois, jovens pais com cara de primeiro filho, traziam no carrinho uma linda menina, de meses apenas. 
O pai foi se servir por primeiro. A mãe, depois. Papai querido sentou na cadeira da mesa ao lado, de frente pra cadeira vazia da esposa, na diagonal da filhota. A fofinha começou a balbuciar alto, como se quisesse chamar atenção. E já com a fantástica descoberta da possibilidade de segurar coisas, começou a puxar a toalha da mesa.
Em cima da toalha, dois jogos de talheres. Garfos e facas muito bem apontadas na direção da pequena, o pai parecia absorto no seu prato. Quando a filha deu um puxão maior e os talheres fizeram barulho ao bater entre si, o pai tomou a iniciativa de apenas puxar de volta a toalha. Pareceu tão lenta aquela reação quanto desprovida de preocupação. Não sei se foi a incapacidade de avaliar a situação e projetar um acidente com a criança, mas aí um espinho de tucumanzeiro me espinhou a consciência. Se fosse comigo, acho que a reação teria sido outra.
Independente do nível de preocupação que um pai tem diante de uma situação potencialmente de perigo ao filho, fiquei pensando que não é, realmente, todo mundo que nasce para criar uma vida dependente da sua.
Aí, eu falo. Não vá ser pai ou mãe, se você não é capaz de viver sua vida em função de outra. Se você não tem a capacidade de se preocupar mais com a outra vida do que com a sua. Se você não é capaz de dar de comer primeiro pra outra boca do que pra sua. Se você não aceita nunca mais acordar cedo. Se você não aceita nunca mais dormir cedo, antes do seu rebento dormir. Se você não aceita ficar exausto por gastar toda a sua energia brincando com seu filho. Se você não passa a viver 24 horas alerta, pastorando a vida do seu rebento, da mesma forma que a fêmea do jacaré Açu faz com sua ninhada.
Se você não consegue fazer tudo isso, e mais, então não invente de ser pai. Não invente em ser mãe. Dona Tetê, dona ventre que me gerou, costuma falar: “mãe é pra cem filhos, mas cem filhos não são para uma mãe”. Rendi-me a esta matemática desde que Júlia nasceu.
Mas antes que eu seja mal entendido, bom lembrar que não defendo aqui a paranóia de muitos pais que não deixam seus filhos crescerem lhe dando com o sofrimento que a vida concede, muitas vezes. Aí, os filhos crescem numa redoma irreal diante do mundo lá fora. É a regra do herdeiro e do sucessor, segundo o mestre Içami Tiba. Eles diz que há pais que criam seus filhos como herdeiros, aqueles que só “gastam” a riqueza que a família criou. Mas há os pais que criam os filhos para serem sucessores, ou seja, aqueles que aprendem como os pais criaram o que têm.
Logo, a decisão fica por conta da consciência. Se não sabe brincar, não desça pro play. Se não vão saber ser pai (ou mãe), seja um grande tio, padrinho, amigo, ou não seja nada.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Arthur e Omar: nomes do futuro. Mas que futuro será?

Encontro Arthur Neto (prefeito eleito) e governador Omar Aziz. Em 30/10/2012. Foto: Arnoldo Santos
Uma foto para guardar com carinho e, mais tarde, analisar cartesianamente. Cortesias à parte, os barcos em que singram seus mares são diferentes, sim. E pelo andar da carruagem, podem entrar em rota de colisão assim que as conjecturas rumo ao Palácio da Alvorada começarem. Porém, é singular a situação dos dois, justamente porque são parecidas. Um tem a missão de consolidar o bom governo que vem fazendo, o que lhe vem rendendo boas avaliações populares. É a chance que tem de provar que pode, sim, ser o líder do ataque, e não o chefe do banco de reservas. O outro vem para provar que, agora, está mais experiente e, por isso, mais certo de suas decisões, alheio a mesquinharias. Compromissado, acima de tudo, em "acertar". Logo, venho perguntar. Quando chegar a josta da corrida presidencial, e da própria corrida ao governo estadual, dá pra fazer um PACTO POR MANAUS e blindar as respectivas administrações das práticas puramente eleitorais, partidárias e grupescas, em nome da coletividade manauara? Vamos ver, mas vamos torcer também. Atentos e antenados! É como deve ficar o eleitor que ama Manaus.

Cidadania pode ser mais uma disciplina, que nem Matemática?

1976, Colégio Batista de Parintins
O mestre Paulo Freire Freire, em sua obra "Educação e Mudança" (1979), afirma que a educação passa por um processo de autoreconhecimento do indivíduo educando com o seu redor. Diz ainda que há uma necessidade "da estimulação da consciência reflexiva no educando para que este reflita sobre sua própria realidade, conseguindo assim que as relações deste sejam reflexivas, conseqüentes, transcendentes e temporais. Reflexiva à medida que busca contemplar sua realidade, transcendente por na sua reflexão conseguir projetar um futuro de acordo com seus desejos, tornando assim sua relação também conseqüente, e temporal por agir, perceber-se e fazer-se em seu tempo um ser social e histórico".

Pronto, cheguei aonde queria chegar. Tirando toda a complexidade da inigualável teoria freiriana, vamos à prática da sala de aula para dizer que a escola precisa ensinar mais o que é ser um indivíduo social. Se as regras de convívio servem para dirimir os conflitos de interesse, precisamos aprender, desde cedo, a resolver estas questões. O individualismo exacerbado é, no final das contas, o resultado de quando não se ensina ao homem que ele precisa saber ceder em nome do coletivo. 

Daí que digo existir a necessidade da escola ensinar, de maneira prática e organizada, o que é ser cidadão dentro de uma coletividade. Por que as escolas não têm uma disciplina CIDADANIA? Sim, por que não ensinar, como diria minha vó, os "termos de bem viver"? 

Simples como a água cristalina do rio Tapajós, o conceito de cidadania é quase matemático. Significa o conjunto de direitos, deveres e obrigações do indivíduo em relação ao grupo social em que vive. Para a criança é fácil, se o processo começar bem cedo, aprender que é preciso ceder em nome do bem coletivo. E que este bem coletivo também é bom para si mesmo. Mas acima de tudo ensinar práticas o bom mesmo é que, na escola, é possível ensinar idéias, conceitos. Logo, a criança vai entender que não se joga papel de bala usado no chão não porque a professora briga, mas porque é ruim pra todo o grupo. Um pensamento dessa natureza vai causar no ser adulto a postura de que ele não pode jogar sacos de lixo no meio ambiente sem que obedeça o horário certo da coleta. E tais posturas práticas, criadas dentro da sala de aula, não páram por aí.

A criança que aprende a respeitar o interesse coletivo não vai ser o adulto que fecha o cruzamento, que para em fila dupla pra deixar filho na escola, que buzina no congestionamento, que ajuda de várias formas a tornar o ambiente em que vive pior para se viver.

Dessa forma, a disciplina CIDADANIA poderia, sim, criar gerações de novos adultos mais compromissados com a sua coletividade. Vamos refletindo sobre isso, mas enquanto não se faz na prática essa idéia, prestemos atenção aos nossos filhos, que já estão ao nosso ao redor e precisando de orientação rumo a um futuro muito próximo.