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Foto: Arnoldo Santos/ Lago do Curuçá/ Rio Solimões/ Município do Careiro

sexta-feira, 28 de maio de 2010

VISTO PARA OS EUA: VOU PASSAR 10 ANOS SEM VOLTAR À BANCA DA DONA ELVIRA

Acordo do Brasil com o governo dos Estados Unidos da América aumentou para 10 anos o prazo de validade dos vistos, expedidos desde  sexta-feira (28/05). Para mim o que tem de maior avanço mesmo é saber que poderei passar 10 anos sem ter de voltar àquela embaixada dos EUA em Brasília, onde tirei o visto da minha filha. Pena que não peguei esta regalia porque fiz isso no início do mês. Mas para os que vão tirar o visto desde agora poderão ser livres da incômoda visita. É que tirar o visto para os EUA naquela embaixada lembra a fila do velho INPS, onde a multidão se aglomerava pra tira a ficha de atendimento médico.
Primeiro que o atendimento inicial é feito na calçada da embaixada, em frente da entrada principal, embaixo de uma cobertura de lona que não dá nem pra metade do número de pessoas que se alglomera a partir de 6h da manhã. O pessoal da segurança é até legalzinho, tentando ser educado, mas é complicado. O cenário ermo da área verde que permeia a frente da embaixada dá uma sensação de calma, aumentada pelo canto dos passarinhos. As pessoas começam a chegar em carrões, táxis, carros mais simples, acompanhadas ou sozinhas, bem vestidas, outras nem tanto. Algumas, como se fossem pra festa, outras como se viessem da festa. Vi até gente fardada. Mas todos têm de passar por uma atendente somente. Funcionária brasileira, terceirizada.
Quem está com os documentos em mãos, sem problema. Vai entrar rapidamente depois de uma revista. Os homens têm de fazer posição de cruz enquanto o guarda passa o detector de metais. As mulheres não têm de fazer o mesmo, passam direto. Mas a bolsa é aberta pra averiguação também. Mas um detalhe chama a atenção. Quem está com bolsa contendo algum tipo de aparelho eletroeletrônico e não tem com quem deixar acaba se valendo do jeitinho brasileiro em plena embaixada do velho e bom Tio Sam. Eu, por exemplo, estava com o notebook dentro da mochilha. Eis que, para minha admiração, o guarda com quem falei do problema, falou assim: "vá bem ali e procure a dona Elvira". Bem, então eu descubro que o setor de guarda-volumes  para cidadãos brasileiros que vão à embaixada dos EUA em Brasília fica na banquinha de café da manhã, sob os cuidados maternais da Dona Elvira, a proprietária e chapeira da banca. A módicos R$ 5,00, ela guarda a sua bolsa e ainda te dá uma fichinha numerada. Quando a gente olha, vê que o negócio é até rentável, diante da quantidade de bolsas deixadas. Como não há outra alternativa, o serviço de guarda da Dona Elvira acaba acima de qualquer suspeita.
Entrando no prédio, dentro do salão para expedição de vistos, uma visão perturbadora. A gente olha para a máquina de contagem de senhas e vê a numeração em 360, por exemplo, sendo que a sua senha é a 590. Um salão quente, dependendo da época do ano em Brasília, onde o teto está dotado de vários daqueles ventiladores de palhetas de madeira, dando a impressão que foram comprados todos na feira da torre, paraíso dos sacoleiros de produtos made in china na capital nacional. Expressão inequívoca da cafonisse yanque.
A espera não é menor do que duas horas. A angústia não é mais branda do que esperar o atendimento no posto de saúde lotado do bairro em dias de surto de virose em criança.
E quando chega a sua vez, que você entra naquele biombo para a entrevista via microfone, o funcionário gringo olha pra ti e começa a perguntar. Na hora, imagina-se que espécie de pergunta ele vai fazer. Por isso, aconselha-se a levar até a inscrição no grupo de escoteiros pra provar que você não é um simpatizante do Bin Ladem, ou mesmo um pretenso sucessor do General Noriega, Pablo Escobar, Al Capone ou sei lá qual mais inimigo da América. Se você estiver com documentos, com todas as respostas na ponta da língua, pelo menos dá uma certa segurança. Comenta-se que o visto é dado de acordo com o humor do funcionário, a sua cara, a sua conta bancária, o teor de desconfiança diante dos brasileiros naquele deteminado dia.
No final, a gente sai de lá com o visto liberado, esperando que o passaporte chegue no prazo certo. Ainda bem que 10 anos é um tempo bom mesmo. Será que, até lá, a dona Elvira vai ter melhorado a banquinha dela?

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