A nossa Amazônia!

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Foto: Arnoldo Santos/ Lago do Curuçá/ Rio Solimões/ Município do Careiro

quarta-feira, 30 de junho de 2010

NÃO VEJO FALAREM DA PARINTINS QUE EU VI

Em termos de reportagens sobre Parintins, foram muito boas e outras, nem tanto. Profissionais que foram estavam entre os experientes e escreventes de primeira viagem. Os maiores jornais de Manaus deram cobertura ampla, deu pra suprir os leitores mais exigentes. Apesar disso, eu vi detalhes que não vi impressos em canto nenhum, em forma de reportagem.
Não vi a desvirtualização do lazer em sua forma sadia, ao me deparar com a Sodoma e Gomorra nas quais se transformam as ruas do centro da cidade nas madrugadas. E o detalhe factual, como se diz na linguagem das redações, a ação da PM em mandar desligar as aparelhagens de som que estupravam nossos ouvidos com os famigerados forrós e funks. Nem me detenho a descobrir quem assinou a ordem, porque certamente partiu do Poder Judiciário e/ou Ministério Público. De qualquer maneira, foi o poder público agindo em nome da qualidade dos nossos ouvidos.
Não vi escrita a busca cruel pela sobrevivência de incontável número de jovens, muitos menores de idade, ao se submeterem a subpostos de trabalho temporária na época do festival. Lembro bem de uma jovem que atendeu a mim e minha namorada em um dos lanches da Praça Digital. A garota não tinha mais que 18 anos. Vestida com uma bermuda jeans colada, blusinha decotada, mais parecia que estava em casa e não atendendendo o visitante em um dos pontos turísticos mais importantes da Ilha. Eu pedi uma vitamina e perguntei se ela estava ali só na época do festival. Confirmou que sim. Perguntei também se ela ganhava hora extra e adcional noturno. Este segundo item, me pareceu que nem sabia o que era. A garota, com sotaque inconfundível de parintinense, me disse que entrara no serviço às 16h naquele dia. Já era 2h da madrugada do dia seguinte e não tinha hora pra fechar. Além de servir, vi que as atendentes também ajudavam a limpar a praça, juntando os copos e outros lixinhos jogados pelos não tão educados clientes. Lado injusto do evento mais importante da cultura nortista.
Não vi também escrito que o parintinense nato perde um pouco da sua paz. Deixa de sentar à frente da sua casa pra conversar no fim da tarde, à boca da noite.
Não vi que Parintins já está caminhando para a degradação dos veios aquáticos do entorno urbano, como é a francesa, bairro do extremo leste da cidade. É onde, um dia, vi os caboclos pegarem com as própais mãos surubins vivos, presos nos quintais cercados, alagados pela enchente. Hoje, a área foi aterrada e, nela, construída um mercado para produtores rurais.
Comentário geral foi de que o movimento estava mais fraco do que nunca. É a sensação que dá. Menos barcos ancorados e os vôos totalmente lotados, criando um congestionamento inigualável no aeroporto Júlio Belém. Sinal de que, cada vez mais, a festa está se tornando evento para VIPs, com dinheiro pra pagar até R$ 900,00 por ingressos das mãos de cambistas.
Parintins parece mesmo um ritual...ou lenda amazônica...ou figura típica regional...

Um comentário:

  1. Acho que figura típica regional... Muito oportuno, mesmo. Ninguém comentou nada disso... mas esse olhar não faltou à mesa do bar, só entre os bons! Estar ao lado de pessoas como vc, meu caro, numa simples noite de sábado, é melhor que qualquer faculdade. Parabéns! Vc é 10. E Parintins também. hehehe.

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