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Júlia Santos, motivo de tudo |
Restaurante do Amazonas Shopping. Eu tinha pedido apenas um
suco, esperando Jack para almoçar nesta segunda com cara de sexta. E eis que um
casal senta à mesa próxima. Os dois, jovens pais com cara de primeiro filho,
traziam no carrinho uma linda menina, de meses apenas.
O pai foi se servir por primeiro. A mãe, depois. Papai querido sentou na cadeira da mesa ao
lado, de frente pra cadeira vazia da esposa, na diagonal da filhota. A fofinha começou a balbuciar alto,
como se quisesse chamar atenção. E já com a fantástica descoberta da
possibilidade de segurar coisas, começou a puxar a toalha da mesa.
Em cima da toalha, dois jogos de talheres. Garfos e facas
muito bem apontadas na direção da pequena, o pai parecia absorto no seu prato.
Quando a filha deu um puxão maior e os talheres fizeram barulho ao bater entre
si, o pai tomou a iniciativa de apenas puxar de volta a toalha. Pareceu tão
lenta aquela reação quanto desprovida de preocupação. Não sei se foi a
incapacidade de avaliar a situação e projetar um acidente com a criança, mas aí
um espinho de tucumanzeiro me espinhou a consciência. Se fosse comigo, acho que
a reação teria sido outra.
Independente do nível de preocupação que um pai tem diante
de uma situação potencialmente de perigo ao filho, fiquei pensando que não é,
realmente, todo mundo que nasce para criar uma vida dependente da sua.
Aí, eu falo. Não vá ser pai ou mãe, se você não é capaz de
viver sua vida em função de outra. Se você não tem a capacidade de se preocupar
mais com a outra vida do que com a sua. Se você não é capaz de dar de comer
primeiro pra outra boca do que pra sua. Se você não aceita nunca mais acordar
cedo. Se você não aceita nunca mais dormir cedo, antes do seu rebento dormir.
Se você não aceita ficar exausto por gastar toda a sua energia brincando com
seu filho. Se você não passa a viver 24 horas alerta, pastorando a vida do seu
rebento, da mesma forma que a fêmea do jacaré Açu faz com sua ninhada.
Se você não consegue fazer tudo isso, e mais, então não
invente de ser pai. Não invente em ser mãe. Dona Tetê, dona ventre que me
gerou, costuma falar: “mãe é pra cem filhos, mas cem filhos não são para uma
mãe”. Rendi-me a esta matemática desde que Júlia nasceu.
Mas antes que eu seja mal entendido, bom lembrar que não
defendo aqui a paranóia de muitos pais que não deixam seus filhos crescerem lhe
dando com o sofrimento que a vida concede, muitas vezes. Aí, os filhos crescem
numa redoma irreal diante do mundo lá fora. É a regra do herdeiro e do
sucessor, segundo o mestre Içami Tiba. Eles diz que há pais que criam seus
filhos como herdeiros, aqueles que só “gastam” a riqueza que a família criou.
Mas há os pais que criam os filhos para serem sucessores, ou seja, aqueles que
aprendem como os pais criaram o que têm.
Logo, a decisão fica por conta da consciência. Se não sabe
brincar, não desça pro play. Se não vão saber ser pai (ou mãe), seja um grande
tio, padrinho, amigo, ou não seja nada.
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