A nossa Amazônia!

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Foto: Arnoldo Santos/ Lago do Curuçá/ Rio Solimões/ Município do Careiro

terça-feira, 7 de setembro de 2010

COMO É FAZER UM CENSO DEMOGRÁFICO NA AMAZÔNIA?



Em uma sala que não mede mais do que 12 metros quadrados, em uma casa de madeira, no município de Careiro da Várzea (20 Km de Manaus), agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)  avaliam o trabalho de coleta de dados iniciado no dia 1º de agosto.A primeira conclusão é de que 40% da meta já foram concluídos. Um índice comemorado como vitória diante das dificuldades que os recenseadores enfrentam no dia-a-dia deste Censo de 2010. Para cumprir a missão, os recenseadores têm de improvisar e usar do conhecimento do caboclo ribeirinho para chegar até os locais onde mora a população a ser recenseada. De canoa, indo a pé pela mata, usando pequenas lanchas, tudo vale para cobrir uma área equivalente e oito vezes o tamanho da região metropolitana de São Paulo.
Nos municípios de Manaquiri, Careiro da Várzea e Careiro Castanho, a área total soma mais de 13 mil Km² a serem cobertos pelos recenseadores do IBGE
Para cobrir todo o país o IBGE dividiu o território brasileiro em áreas censitárias. No amazonas, a coordenação de subárea responsável pelo Careiro da Várzea também cuida do Censo nos municípios de Manaquiri e Careiro Castanho. Juntos, os três somam mais de 13 mil km² de área. Missão para 68 recenseadores contratados. E nesta época do ano, a vazante dos rios está deixando o trabalho mais difícil. Se o rio está cheio, chega-se a qualquer canto facilmente, usando incontáveis atalhos por entre a floresta alagada. Mas a seca obriga os recenseadores a trocar os barcos maiores por pequenas embarcações das quais a canoa é o meio mais comum.
No Careiro, o trabalho da recenseadora Ketlenn Barbosa começa em um porto flutuante na beira do Paraná do Careiro, um afluente do rio Solimões que dá acesso ao interior do município. A embarcação é uma pequena lancha de alumínio, dotada de um motor de popa e guiada pelo agente censitário Naílson Fernandes, o responsável pelo trabalho do Censo no município. Eles partem na direção da zona rural. O Careiro da Várzea tem 95% de sua área compostos por terras alagáveis, motivo principal do nome do município. Com quinze minutos de viagem, a equipe chega à comunidade do Igapó Açu onde moram cerca de 30famílias. O único acesso às propriedades é um pequeno curso d’água (igarapé) que está com nível tão baixo que os moradores tiveram de fazer um mutirão de emergência para levantar uma barragem na foz do igarapé. “Se não fizermos isso, a água sai toda e os moradores não têm como levar a produção para fora”, explica Jacó Silva que além de morador é vereador municipal. 
A dupla do IBGE iniciando um dia de trabalho. Nos três municípios da região, 68 recenseadores estão realizando o Censo 2010
Deste ponto em diante, a lancha é substituída por uma canoa menor ainda, mas empurrada por um motor a hélice também, aqui chamado de rabeta. O leme é o remo e a experiência do agente censitário em viver na região é essencial. “Como a seleção para o censo é um concurso público, muitas vezes a gente recebe gente de fora, da cidade grande, que não tem prática de viver no interior e nem conhece a região. Essa é uma das dificuldades”, diz o coordenador desta subárea censitária, João Paulo Lopes. Mas neste caso, a dupla do IBGE conhece a região e não tem problemas em subir o igarapé, descer nas margens irregulares e chegar até as casas. O agricultor André Gomes Pereira, 39 anos, foi um dos entrevistados. Ele mora na comunidade do Igapó Açu desde que nasceu. Vive de plantar hortaliças, assim como a maioria dos moradores da área, e mora na pequena casa de madeira com a esposa e dois filhos. “O pessoal do IBGE já tinha passado outras vezes aqui em casa e eu sempre respondo as perguntas”, disse o agricultor confirmando uma informação passada pela coordenação da subárea. A recepção aos recenseadores é sempre positiva. Mas a falta de informações exatas complica a exatidão dos dados. “A maior dificuldade que a gente encontra nas entrevistas é que boa parte deles (entrevistados) não sabe o mês e o ano que nasceu”, diz a recenseadora Ketlenn. Isso faz com que os questionários sejam preenchidos apenas como idade presumida.
O agricultor André Gomes Pereira é entrevistado pela recenseadora do IBGE
Mas as dificuldades do Censo na região não se resumem à inexatidão dos dados pessoais dos entrevistados. “Já tivemos recenseador perdido porque o GPS dele deu problema. Outro que foi com equipamento e tudo pra dentro d’água fugindo de cachorros. Outro que teve a canoa alagada e uns até contraíram malária”, conta João Lopes.
Outro problema encontrado neste Censo é a grande quantidade de domicílios que não se encontram nos seus locais presumidos. “São aquelas casas flutuantes que são abandonadas ou simplesmente não são encontradas porque são levadas para outros locais quando o rio começa a baixar para que não fiquem encalhadas”, explica João. Para ajudar na cobertura das localidades mais distantes, o pessoal do IBGE buscou a ajuda dos agentes comunitários de saúde, gente que percorre durante o ano todo o município.
E assim, o Censo de 2010 vai sendo realizado nesta parte da maior floresta tropical do Planeta. De maneira bem diferente das demais regiões, mas com a mesma missão: fazer com que os brasileiros que vivem aqui sejam conhecidos pelo resto do Brasil.